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terça-feira, 28 de abril de 2015

Cabo Anselmo era um Traidor

O dia em que a luta armada descobriu que Cabo Anselmo era um traidor


Carlos Eugênio Paz, codinome Clemente, comandante militar da ALN (Ação Libertadora Nacional), fez apenas uma exigência durante a longa entrevista: que pudesse fumar
A conversa começou às 10h30 em ponto de uma terça-feira de março, dia 24, conforme combinado anteriormente. Carlos Eugênio chegou antes, como é de sua formação, e tocou a campainha, no horário. Subiu as escadas e dirigiu-se à sala de reunião.
A primeira parte da conversa não foi gravada. Seu objetivo era entender como a ALN sabia tanto sobre os empresários que financiaram o golpe militar de 1964 e que ajudariam, com a mobilização de recursos, instituições e projetos, a construir o regime que não teve um fim muito claro: teria ele acabado em 1985, com a eleição de Tancredo Neves? Ou 1988, com a promulgação da Constituição? Ou 1989, com a primeira eleição presidencial direta? Ou, ainda, em 1992, com a destituição de Fernando Collor de Mello?
Em uma aprofundada pesquisa que vem sendo realizada desde 2013, ficou evidente para nós que os alvos empresariais dos guerrilheiros da ALN, com uma frequência enorme, eram as empresas que mais colaboraram com o golpe e, principalmente, a brutal repressão contra os opositores — o caso mais conhecido é o da execução do empresário dinamarquês Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz. Foi Carlos Eugênio, o alfa da operação, o responsável pelo tiro que confirmou a morte do empresário a 15 de abril de 1971, na esquina da rua Professor Azevedo Amaral com a alameda Casa Branca.
Ou seja, a ALN sabia. Sabia, a quente, com precisão, quem eram os empresários que mais colaboravam com o regime, os que estavam evolvidos até o pescoço com a ditadura. Decidimos entrevistar Carlos Eugênio para esclarecer alguns detalhes dessa pesquisa, que resultará em um livro.
Opera Mundi TV

Carlos Eugênio Paz, codinome Clemente, comandante militar da ALN (Ação Libertadora Nacional)
Alguns pesquisadores do grupo haviam os lido os livros de Carlos Eugênio, Viagem à luta armada e Nas trilhas da ALN, em que ele narra suas memórias do período. São livros emocionantes, com frases secas bem escolhidas, claramente inspirados pelas narrativas de Jack London e Albert Camus, dois de seus autores preferidos. Mas alguns desses detalhes não estavam lá.
Finda essa primeira parte, fomos almoçar. A comida acabou, e continuamos na mesa, conversando sobre amenidades e conjuntura atual, até a hora em que Carlos Eugênio precisava de mais um cigarro. Voltamos para um outro espaço, e decidimos gravar. Mais algumas grandes histórias e percebemos que o som não estava funcionando. Acontece. Suspiramos, pedimos muitas desculpas ao entrevistado, arrumamos umas bolachas e um café e seguimos em frente — desta vez com o som testado e funcionando, retomando alguns pontos discutidos anteriormente.
Nessa entrevista, Carlos Eugênio tratou de temas e ações essenciais para entender a Ação Libertadora Nacional, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro agrupada por Carlos Marighella em 1967, seu programa político e sua maneira de atuar.

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No primeiro vídeo da série inaugurada nesta terça-feira (28/04), Carlos Eugênio conta como descobriu que o Cabo Anselmo, um infiltrado pelo regime na Vanguarda Popular Revolucionária, a VPR de Carlos Lamarca, era um traidor. No segundo, avalia que, do ponto de vista institucional, a grande vitória da luta armada contra o regime de exceção foi a campanha, promovida pela ALN, em defesa do voto nulo nas eleições de 1970. Na última parte, Carlos Eugênio conta como viveu no exílio em Paris, estudou violão e retornou ao Brasil, além de dar detalhes de suas relações familiares — com o pai, um ex-integralista, e a mãe, que ele, inclusive, “recrutou” para a ALN.
Descobrindo o traidor
José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, teve uma participação ativa nos protestos dos sargentos da marinha em 1964, pouco antes do golpe. Há forte suspeita de que o líder, depois do golpe, “fugiu” pra Cuba e retornou ao Brasil em 1970. Preso por Sergio Paranhos Fleury, do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, ele alega ter mudado de lado passando a atuar como agente infiltrado.
"Eu fazia contato com a VP [Vanguarda Popular Revolucionária, grupo do qual a principal liderança militar foi o capitão Carlos Lamarca] na época com o Moisés, o [José] Raimundo [da Costa], o sargento Moisés, grande companheiro. A gente se tornou, inclusive, amigos. E Moisés um dia me disse: olha, o cabo voltou. Hoje em dia a gente sabe que nem cabo ele foi", conta Carlos Eugênio Paz.. José Raimundo da Costa viria a “cair”, ou seja, a ser preso pelos agentes da ditadura e levado ao DOI-Codi, onde seria morto, em 1971, justamente devido à infiltração do Cabo Anselmo.
"A gente tinha notícias do cabo Anselmo em Cuba. De repente, saber que ele estava aqui... ". Os contatos avançaram, e Anselmo insistia em conhecer o “Clemente”. “Mas eu falei, ué, mas por quê? Daí um dia eles disseram: o cabo quer marcar um ponto. E eu disse seriamente: por que o cabo quer marcar um ponto comigo?" A explicação é que o cabo queria saber como Clemente, "um cara que já estava sobrevivendo a muito tempo", se organizava para se manter atuante na luta armada na clandestinidade, "como você faz pra não cair".
Um dia, ao conduzir o companheiro Paulo de Tarso Celestino, conhecido como “Meu Avô” na guerrilha, para um ponto com o Anselmo, Clemente ficou dando voltas na região do Brooklin Novo, zona sul de São Paulo. "Enquanto eu dava voltas na região [antes de pegar Meu Avô novamente], senti que a região estava vigiada. Quando ele entrou, eu falei, pega aí a matraca que eu estou sentindo uma área muito carregada, tá minada".
Pouco à frente, a suspeita se confirma: "Quando eu olhei assim, tinha à nossa direita um Opala com o [delegado do Dops, Sérgio Paranhos] Fleury dirigindo. Com um cara ao lado direito que eu não vi a cara e um cara no banco de trás que eu vi menos ainda a cara. Mas era o Fleury." "Eu sempre pensei que fosse pra esconder o Anselmo."
A ALN recebeu informações da cadeia de que Anselmo teria sido preso, junto com outro militante, o que não se confirmou do lado de fora.
Esses dois episódios fizeram Clemente dizer aos companheiros: "Vocês não estão enxergando, esse homem está colaborando. Está bom, vamos marcar o ponto. Agora eu quero", lembra, na entrevista. "Montei o esquema. Coloquei alguns companheiros legais para andar na área e eles me disseram: esquema nós não vimos ser montado. Daí falei: está bom, vou entrar no ponto."
O encontro ocorreu na Vila Mariana, no fim do mês de junho de 1971 — "dia 29 ou 30". Mas Carlos Eugênio não confiava no interlocutor. “E realmente o camarada só sabia me fazer perguntas: 'Como você monta aparelhos?'; 'Ah, eu tenho um casal de velhinhos que aluga umas casas para mim, e eu sou o sobrinho deles, às vezes eu compro uma casa, ponho outro casal, é sempre assim que eu monto, me apoiando nas pessoas'. Tudo mentira, eu menti descaradamente."
Na volta ao carro, a desconfiança cresceu: "Eu entrei no carro e falei: Iuri, faz uma meia volta, vamos atrás desse cara, vamos ver aonde ele vai." Rapidamente, a suspeita foi confirmada: "Aí desvendamos o Cabo Anselo. Por quê? Quando chegamos na ruazinha em que ele tinha entrado, tinha uma Kombi parada, dois fuscas, o delegado Fleury, um monte de tiras e o Anselmo conversando com isso tudo."
"O Fleury olha pra gente e corre pra entrar no carro. A gente se manda." Começa uma cena de perseguição pelas ruas da Vila Mariana, descritas em detalhes, como se tivessem ocorrido ontem. "Quando fomos chegando, os caras atrás."
Prevendo que seriam cercados, Carlos Eugênio diz a Iuri que não havia alternativa a não ser fazer meia volta e enfrenta os repressores. "Quando estava quase chegando no fim da Jorge Tibiriçá, ele dá um balão, eu pego uma Lugger 9 mm, e nisso a Kombi se atravessa na rua, para barrar nossa passagem, os dois fuscas vão pro lado e os caras vão para o matagal, para ficarem atirando na gente. Não ficou um vidro em pé nesse carro."
Uma bala passa tão perto da orelha de Iuri e a esquenta, mesmo sem tocar. Clemente pega sua 9 milímetros, e Iuri começa a forçar a passagem, como bate e voltas, no pequeno espaço entra a Kombi e um carro estacionado, até conseguir liberar. "Eu gastei uns quatro ou cinco pentes de Lugger, depois eu soube que eu acertei, quer dizer, eu errei um tiro no Fleury. Se eu só acertei o nariz, eu errei."
Iuri consegue, afinal, romper a barreira e escapar do cerco. Assim que podem, os quatro guerrilheiros descem do veículo baleado e pegam um outro carro. Esse carro seria, em seguida, abandonado na Aclimação, na rua Pires da Mota.
* Colaboraram Vitor Sion, Felipe Amorim, Rodolfo Machado, Laisa Beatris e MHG. Edição do vídeo de Dodô Calixto.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/40260/O+dia+em+que+a+luta+armada+descobriu+que+cabo+anselmo+era+um+traidor.shtml

Veja o vídeo no link acima.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Acordamos

Esse blog pede licença para tratar de um assunto muito mais importante que futebol.
Quinta, dia 20, João Pessoa vai ferver mais do que de costume.
SEMPRE houveram manifestações em João Pessoa quando as tarifas de ônibus aumentam. Manifestações são até tradicionais por essas bandas. São bem organizadas e fortes.
Mas desta vez vem com aditivo extra. Da soma da eterna insatisfação crônica com a forma que conduzem nosso país e usam nosso dinheiro + a comunicação proporcionada pela internet + os holofotes da Copa das Confederações trouxe como produto manifestações de grande pulsão de sentimento social.
Tudo isso também trazido pelo espírito de contestação que toma a Turquia, da força da locomotiva paulistana, do Rio, de Minas, de um Brasil que sempre se lamentou, mas poucas vezes se rebelou dessa forma.
Nós aqui vamos pra rua na quinta.
Professores, alunos, advogados, mendigos, artistas, pai e mães de família, comerciários, vagabundos, intelectuais... todos. De todos os tipos e cores.
As manifestações continuam sem líderes marcantes; poderiam ser mais consistentes se houvessem líderes.
As manifestações continuam sem uma ou duas razões principais e poderiam ser mais sustentáveis se houvesse um 'recorte' para um ou dois temas dos tantos que são urgentes nesse pais.
Mas se elas forem intensas, constantes e categóricas os efeitos podem ser bem interessantes.
Dentre eles um em especial eu acho que seria excelente; uma consequência menos utópica que mudar o Brasil: as gangues de colarinho branco, os maus parlamentares, devem TEMER o povo!
Se essa politicaiada ficar com um medo constante do povo a coisa deve ir pra frente e, enfim, as manifestações operarão milagres num país que precisa muito disso.
Não pode parar.

sábado, 16 de março de 2013

Instalada comissão da verdade na Paraíba.

Ricardo instala Comissão da Verdade e empossa integrantes

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Segunda-feira, 11 de março de 2013 - 16h36
O governador Ricardo Coutinho participou nesta segunda-feira (11), da solenidade de instalação da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba. O evento aconteceu às 11h, no Palácio da Redenção, com a posse dos sete membros, sendo seis indicações de entidades, instituições e ONG’s, e um membro indicado pelo governador. O mandato é de dois anos.
A Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória foi criada pelo governador Ricardo Coutinho por meio do Decreto nº 33.426/12. Tem a missão de investigar crimes de violação dos direitos humanos praticados por agentes públicos contra paraibanos, durante o período da Ditadura Militar. As informações obtidas serão encaminhadas aos órgãos públicos competentes para que possam auxiliar na localização e identificação dos corpos e restos mortais de desaparecidos políticos.
Antes da solenidade, Ricardo Coutinho convidou ao seu gabinete os quatro homens e as três mulheres que integram a comissão. Ele agradeceu a todos eles por terem aceito o convite e a nomeação. Os membros também agradeceram ao governador pela confiança e escolha a partir de sugestões da sociedade civil paraibana.
Comissão - A Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória tem como presidente Paulo Giovani Antonio Nunes, Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco, bacharel em História e Comunicação Social pela UFPB. Professor da UFPB ele é membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em História do Século XX, na linha de Pesquisa História política – Culturas políticas na História.
Os demais membros são: jornalista João Manoel de Carvalho; Irene Marinheiro (Centro da Mulher 8 de Março); Lúcia Guerra de Fátima Guerra Ferreira, Doutora em História pela USP e professora da UFPB; Iranice Gonçalves Muniz, Doutora em Direito Público, atualmente é professora titular do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ); Fábio Fernando Barbosa de Freitas (UFPB/UFCG); e Waldir Porfírio, advogado, escritor, pesquisador da história das esquerdas na Paraíba, graduado em psicologia pela URNe (UEPB) e atual chefe de gabinete do governador.
Ricardo Coutinho destacou em seu pronunciamento a importância de seis membros da Comissão da Verdade terem sido indicados pelas universidades, pelo movimento sindical, pelo movimento de direitos das mulheres. E acrescentou: “Quero afirmar minha esperança de estar, enquanto Governo, contribuindo para uma coisa que é essencial: que é o resgate dessa verdade”.
O governador lembrou que os regimes de exceção causaram grandes impactos na vida das famílias que tiveram pessoas assassinadas, perseguidas, exiladas, inclusive impactando na economia do país. Ressaltou que gerações pós-golpe de 1964 também foram atingidas. “A história foi moldada de um jeito e essa história precisa ser contada porque afetou profundamente o nosso país e principalmente porque jamais ela pode voltar a acontecer”. Concluiu afirmando que “são buscas para que esse país jamais passe o que passou”. Ricardo Coutinho garantiu que o Governo do Estado está à disposição da Comissão para contribuir com seus trabalhos.
O representante da Comissão Nacional da Verdade, Guaracy Mingardi, parabenizou o governador Ricardo Coutinho pela coragem de instalar a Comissão Estadual,  sobretudo com representantes da sociedade civil e lembrou que muitos estados ainda não criaram a comissão.
O presidente da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória, Paulo Giovani Nunes, afirmou que os sete membros estarão empenhados em pesquisar e produzir ao final dos trabalhos um relatório esclarecedor dos fatos ocorridos no regime militar na Paraíba, a exemplo da cassação de parlamentares, perseguição de estudantes, de professores, de trabalhadores rurais. “Nosso objetivo é tentar esclarecer esses fatos para dar um retorno às famílias de desaparecidos, por exemplo, mas também vários outros casos de violação dos direitos humanos”, disse.
De acordo com o professor Paulo Giovani, a comissão espera contribuir com o grande relatório da Comissão Nacional da Verdade. “Espero que possamos realizar um bom trabalho e dar um resultado esperado pela sociedade paraibana”, concluiu.
O ex-deputado estadual Simão Almeida destacou que, com a instalação da comissão, a Paraíba dava um passo importante. “É preciso ir a fundo nas investigações porque nós tivemos aqui no nosso país um período em que o governo era exercido por um estado terrorista. E isso não pode ser passado em branco, ser esquecido e não queremos vingança”, afirmou.  Ele acredita que a Comissão da Verdade vai dar grande contribuição ao escrever corretamente essa página da história do povo brasileiro.
O ex-deputado estadual Assis Lemos  e ex-presidente da Federação das Ligas Camponesas, avaliou que o dia  é histórico: “A comissão vai mostrar à Paraíba e ao Brasil o que de fato aconteceu naquela época de  torturas e eu, como fui um dos torturados, estou aqui presente para agradecer aos que organizaram essa homenagem”.
O chefe de Gabinete do Governador, Waldir Porfírio, um dos membros da Comissão da Verdade, afirmou que serão analisados, por exemplo, ofícios secretos sobre pessoas que passavam em concurso público e não eram convocadas porque o ofício dizia que se tratava de  pessoa subversiva.  Segundo ele, informalmente, na sociedade foram criadas comissões para estudar o regime militar. Uma série de informações secretas será revelada e em seguida todo o relatório será encaminhado à Comissão Nacional. Toda a matéria desse estudo ficará disponibilizada no Memorial da Preservação da Democracia da Paraíba, que funcionará na Fundação Casa de José Américo.
A professora Lúcia Guerra, na condição de historiadora, avalia o papel da comissão: “Será um trabalho da maior relevância para revisitar esse período da história da Paraíba. Nós temos muito o que saber, procurar documentação, conseguir informações que possam  esclarecer o que realmente aconteceu no período da ditadura na Paraíba”.
O jornalista João  Manuel de Carvalho,  um dos membros da Comissão da Verdade, acredita que  o trabalho vai restabelecer a verdade dos fatos e evitar que eles se reproduzam no futuro. 
Meios da Comissão para colher informações:
I – receber testemunhos, informações, dados e documentos, assegurada a não identificação do detentor ou depoente, quando solicitada;
II – requisitar informações, dados e documentos de órgãos e entidades do Poder Público, ainda que classificados em qualquer grau de sigilo;
III – convocar, para entrevistas ou testemunho, pessoas que possam guardar qualquer relação com os fatos e circunstâncias examinados;
IV – determinar a realização de perícias e diligências para coleta ou recuperação de informações, documentos e dados;
V – promover audiências públicas;
VI – requisitar proteção aos órgãos públicos para qualquer pessoa que se encontre em situação de ameaça em razão de sua colaboração com a Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba;
VII – promover parcerias com órgãos e entidades, públicos ou privados, nacionais ou internacionais, para o intercâmbio de informações, dados e documentos;
VIII – requisitar o auxílio de entidades e órgãos públicos;
IX – realizar os devidos encaminhamentos do resultado obtido.

Família de Vladimir Herzog recebe novo atestado de óbito

Documento cita 'maus-tratos durante interrogatório' como causa da morte.


 

Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo
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Novo atestado de óbito de Vladimir Herzog tem 'maus-tratos' como causa de morte (Foto: Tatiana Santiago/G1)Novo atestado de óbito de Vladimir Herzog tem
'maus-tratos' como causa de morte
(Foto: Tatiana Santiago/G1)
Os familiares do jornalista Vladimir Herzog, morto durante a ditadura militar, receberam na tarde desta sexta-feira (15) um novo atestado de óbito no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). O documento traz como causa da morte "lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi". No atestado anterior, a versão para o óbito era de "enforcamento por asfixia mecânica".
A determinação para um novo atestado de óbito foi do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), em setembro do ano passado. O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do TJ-SP, atendeu a um expediente de iniciativa da Comissão Nacional da Verdade, criada para esclarecer as violações de direitos humanos no período da ditadura militar.
De acordo com Ivo Herzog, filho da vítima, o atestado tem dupla importância. “Isso significa enterrar um documento mentiroso que humilhava a família tendo que aceitar uma farsa para a morte do meu pai e por abrir precedentes para outras famílias fazerem o mesmo”, justificou.
Segundo Ivo, a luta não termina com a emissão do documento. “A nossa luta continua porque a gente quer ainda que sejam investigadas quais as circunstâncias da morte do meu pai”, afirmou ele.
Para a ministra Maria do Rosário, que participou da cerimônia, a democracia é um processo constante e nunca está concluído. “Ela vai avançando quando o governo representando o Estado assume uma visão democrática e diz publicamente que renuncia toda a forma de violência e terrorismo de Estado como ocorreu no período da ditadura”, disse.
Para Clarice Herzog, viúva da vítima, o novo atestado é motivo de felicidade. “Fiquei muito feliz. Não é uma conquista só da família, mas da sociedade. Várias famílias agora vão ter esse direito, também como nós tivemos. A grande conquista foi de anos atrás quando houve a sentença do juiz”, declarou.
Ivo Herzog e Paulo Pinheiro participam de entrega de documento nesta sexta (Foto: Tatiana Santiago/G1)Ivo Herzog e Paulo Pinheiro participam da entrega
do novo atestado de óbito de Vladimir Herzog
(Foto: Tatiana Santiago/G1)
Anistia
O estudante de geologia da Universidade deSão Paulo (USP) Alexandre Vannuchi Leme, morto em 1973 aos 22 anos, foi reconhecido como anistiado político pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Desde 2001, foram feitos mais de 70 mil pedidos de anistia ao governo. Desse montante, um terço foi deferido com pagamento de indenização, outro um terço foi deferido sem indenização e o restante indeferido por falta de provas, informou o secretário da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Depoimento de perseguida e torturada política

Abaixo depoimento de ISANUSIS DE CASTRO CARDOSO


Aos 23 de Janeiro do ano de 1972, ao chegar de Recife, fui presa na Cidade de Campina Grande, mais precisamente na Rua Vidal de Negreiros, s/n, centro da cidade às 22:00 horas. O motivo da ocorrência deveu-se ao fato de ser noiva de José Calistrato e pertencer a ALN (Ação Libertadora Nacional).
De lá já me levaram algemada para o Quartel do Exército em Campina Grande e lá começaram a bater no meu rosto e no meu estomago, me deixando completamente roxa. Depois dessas torturas me levaram para a sessão de afogamento, que consistia em um caldeirão cheio de água, para, mais uma vez, submeter a dores.  Eles botavam, algemada, minha cabeça dentro d`água e contavam até dez e puxava, num verdadeiro vaivém. Depois eles continuavam a tortura, acendendo charutos e, em brasa viva, queimavam meus seios, que ficaram completamente inchados. Essa tortura durou cerca de três horas. Em seguida fui colocada deitada, para ser transportada  como um animal, para o Recife. Estava algemada, no assoalho de uma Kombi, encapuzada, e eles com os pés em cima de mim, numa cena inimaginável para ser vivida por um ser humano, somente um regime brutal como esse tinha essa capacidade de maltratar as pessoas de uma forma tão animalesca.
Chegando em Recife fui encaminhada para o  Quartel General do 4º Exército, localizado no Parque 13 de Maio, ou seja, o tão chamado e propalado DOI – COD. Nesse local, além de me tacharem de perigosa, eu sofria de diversos tipos de torturas. Uma delas, era a psicológica, pois um bando de homens chegava perto de mim e diziam que iriam me levar para ser jogada no mar de Olinda e que no outro dia ao me acharem pensariam que se tratava de uma vagabunda, uma prostituta ou alcoólatra que teria caído no mar. Nesse trajeto senti um verdadeiro terror e a certeza de que iria, de fato, morrer. Sem nenhuma alternativa, comecei a rezar e entreguei minha alma a Deus, o todo-poderoso.
Desse martírio, voltei por volta das cinco da manha, devendo ressaltar que esse terror durou toda à noite. Ao voltar me colocaram dentro de uma  cela. Às 09:00 horas desse dia, me levaram para Olinda, durante esse dia não houve tortura (também pudera, estava toda quebrada). É bom lembrar, no entanto, que nesse dia não me deram de comer.
O recomeço das torturas me angustiaram a cada instante., desta vez me levaram e me colocaram em um pau de arara, foi quando tive o meu braço deslocado. Ainda no pau de arara, alem das algemas, eles me vedaram a boca com esparadrapo e colocaram no meu nariz água com conta-gotas.
Depois desse chocante episódio, e com já grande acúmulo de torturas, veio um medico oficial para me consultar, porque eu estava toda quebrada e não conseguia mais me levantar. Por ironia do destino, o tal médico recomendou-me banho de infra-vermelho. Mas nem isso serviu para que esses homens se sensibilizassem, além das zombarias, eles tiravam muitos gracejos, numa cena humilhante. Isso aconteceu durante o dia. À noite me levaram para mais uma sessão de tortura. Desta vez foi o choque elétrico, botando fio no meu dedo mínimo do pé. Desta sessão, eu me urinava todinha e era alvo de muitas ironias e deboches. Esta foi a ultima tortura no DOI –COD.
Passados sete dias, me levaram para o Quartel da Polícia do Exército em Olinda, para que fosse recuperada das marcas físicas das torturas, para, diga-se de passagem, não mostrar a aberração animalesca desse regime ditatorial. Sem as torturas físicas, nesse local eu era submetida a torturas psicológicas, um verdadeiro constrangimento. Nas horas das refeições, por exemplo, quando eles nos iam levar, entravam no xadrez e com metralhadoras em punho, apontadas para mim, obrigava-me a comer. E fazia por medo e pavor, pensando que qualquer coisa que fizesse poderia ser morta.
Nesse Quartel tive total assistência medica, cujo único objetivo era de desaparecer as provas físicas e, para só depois me levar, sem marcas,  para a Secretaria da Segurança Pública de Recife, onde lá estavam me aguardando toda a Imprensa Nacional, sem nada nos informar.fiquei presa na Secretaria de Segurança Pública  de Pernambuco (SSP/PE) durante cinco dias para as devidas identificações e os registros de praxe. E, no dia 03 de março de 1972, fui finalmente libertada.  Voltei para o meu emprego na Drogaria Líder, sendo pouco tempo depois demitida, tendo em vista que passei a ser vigiada e perseguida. Fato que me levou para a clandestinidade. Pude somente ter liberdade com todas as significações desta palavra em Dezembro de 1979 com a saída dos últimos presos políticos, inclusive meu marido José Calistrato Cardoso Filho, o que me contabiliza, mais de 09 anos de repressão e perseguição.
Contudo até hoje tenho as marcas destes anos impressas em minha vida e minha alma, pois a minha família ficou sabendo de maneira brutal, pela mídia, que eu estava presa e era superperigosa. Essa noticia serviu para que o meu pai Aparício de Castro perdesse o amor pela vida e pedia a morte a qualquer custo. E no dia 29 de março, deste fatídico ano de 1972, dia do meu aniversário, meu pai morreu assassinado por assaltantes. Como isso não bastasse, toda minha família, com exceção de uma tia que tinha, me abandonou, sem compreender ao certo o que havia acontecido.

Aqui termino o meu relato, e declaro, outro sim, que nunca recebi nenhuma indenização, quer por danos físicos e/ou morais, psicológicos e materiais pelo tempo compreendido entre  o mês de Janeiro de 1972 e Dezembro de 1979.


 Isanusis de Castro Cardoso

ALN apoia projeto de doutorado

Em breve divulgaremos projeto que pretende estudar e registrar a memória dos presos políticos, perseguidos e torturados que residem no Estado da Paraíba.